“Cheia de vida, feliz e intensa, tudo na mesma medida” é como o irmão de Chiara Duarte Pereira, 27 anos, lembra dela. Toda essa alegria e intensidade foi tirada de Chiara na madrugada do dia 2 de setembro de 2020.
Duas facadas e um corpo jogado pela janela do 7º andar de um prédio. Foi assim que Chiara morreu, executada pelo vendedor ambulante Jefferson Pereira Santos, 18 anos. Ele foi preso em flagrante quando colocava fogo em roupas sujas de sangue no prédio onde estava com mulher, que fica localizado na esquina da Avenida Rangel Pestana com a Rua Dr. Bitencourt Rodrigues, a metros do Marco Zero de São Paulo, na região da Sé.
O caso é investigado pelo 8º DP (Brás), onde Jefferson disse que matou Chiara porque se sentiu “enganado” por descobrir que ela era uma mulher transexual ao fazer um programa. Ele narrou que conheceu Chiara na Praça da Sé, praticamente ao lado do local do crime. Na versão do acusado, ele havia tentando expulsar ela do quarto, mas ela se recusou a sair até que ele pagasse pelo serviço.
Em entrevista à Ponte, o corretor Luan Duarte, 25 anos, irmão mais novo da vítima, lamentou a morte de Chiara. “Foi um crime de ódio, transfóbico. O momento de receber a notícia foi horrível. Foi um baque para mim. Vamos tomar todas as atitudes cabíveis pra esse monstro continuar na cadeia. Não podemos deixar a Chiara ser só mais um caso”.
Luan, que também é LGBT+, conta que Chiara não morava com a família, mas residia na Casa Florescer 2, centro de acolhida para pessoas trans e travestis, localizada Vila Nivi, na região do Tucuruvi, na zona norte da cidade. Sua família é do Jardim Ângela, na zona sul.
“A Chiara nunca teve problema com a família, ela não morava com a gente, mas não foi por briga, ela gostava de transitar. Nem na Casa Florescer ela ficava muito. Eu sou gay e a minha mãe sempre nos aceitou. Amor e presença nunca nos faltou”, conta.
No velório de Chiara, conta Luan, Lucilene Duarte, matriarca da família, fez um último pedido antes do caixão descer os sete palmos. “Minha mãe falou que a filha dela não ia ser enterrada de qualquer jeito. Aí minha mãe e uma amiga da Chiara maquiaram ela. Minha mãe passou batom nela antes de ser enterrada. Ela foi enterrada linda, linda, linda, linda”.
“Parecia que ela estava só dormindo apesar de toda a crueldade que ela foi submetida. Eu não sei se falo graças a Deus ou se falo amém, mas o rosto dela estava intacto, mas o corpo estava bem machucado”, lamenta.
O irmão lembra como foram as “saídas do armário”, dele e de Chiara. “Eu desde pequenininho já sabia que era gay. Com 14 anos, me assumi. A Chiara só apareceu Chiara, sem falar nada, aos 17 anos. Eu contei para a minha mãe, que com o tempo foi aceitando. Jamais pensou em expulsar a gente de casa por sermos gay ou trans, só cobrava que a gente fosse honesto”.
Por isso, Luan afirma que vai até o fim para preservar o legado de Chiara. “Eu sinto como se fosse em mim. Não adianta, a gente tá junto, com a gente é sempre crime de ódio, sempre aquela ideia estúpida de homem ou mulher. Eu vou até o fim, até quando não tiver mais ninguém para ouvir”.
“Eu vi vários comentários transfóbicos e horríveis sobre a morte da minha irmã. Eu já passei preconceito por ser uma bicha roqueira afeminada, mas nunca imaginei passar por algo assim”.
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