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A União Nacional (UNA) LGBT de Joinville, no Norte do Estado, repudiou a atitude homofóbica do vizinho de um casal homoafetivo que recebeu um bilhete por baixo da porta reclamando que os dois rapazes andam de mãos dados em áreas comuns de um prédio da cidade. A presidente da associação, Giovanna Lima, afirmou que soube do caso pelas redes sociais e que a UNA elaborou uma carta de solidariedade ao casal.
O maquiador Felipe Alves, de 26 anos, recebeu o bilhete do vizinho em 11 de setembro. A carta, sem identificação, dizia: “Olá vizinho. O Condomínio Piratuba é um local de família. Respeitamos todas as pessoas e não nos importamos com o que cada um faz dentro de sua casa. Mas essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento. Respeito por favor”. O bilhete foi escrito à caneta em uma folha de caderno.
A presidente da UNA LGBT Joinville afirmou que “Sempre iremos repugnar qualquer forma e qualquer demonstração de LGBTfobia. É muito triste que um ato tão simples e tão bonito, como andar de mãos dadas, seja visto como um desrespeito por vir de um casal homoafetivo”.
Felipe Alves decidiu não fazer um boletim de ocorrência, mas o delegado Eduardo Ferraz explicou que houve um “ato de discriminação” na atitude do vizinho.
“O que a gente pode concluir, pelo teor da carta que está sendo analisada, é que se trata de um ato de discriminação e de preconceito fundado na orientação sexual. O subscritor da carta, ele defende que a prática de determinado ato, no caso andar de mãos dadas com seu parceiro ou com sua parceira em locais públicos, seja permitido, aceitável exclusivamente a determinado grupo social, como o caso de pessoas que possuem relações heteroafetivas e fosse vedado a outras pessoas de outro grupo social, no caso pessoas que mantém relações homoafetivas”, disse o delegado. Desde junho do ano passado, na falta de uma lei específica para esse tipo de preconceito contra pessoas homossexuais, bissexuais e transgêneras, foi aprovada pelo congresso que a homofobia e a transfobia se enquadram como crimes previstos na lei contra o racismo.
A norma é a número 7.716/1989. Com a decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), passou a ser crime por exemplo, impedir o acesso de uma pessoa LGBT a um estabelecimento comercial, escola pública ou privada. Também é crime,praticar, induzir ou incitar a discriminação contra essas pessoas. A pena vai de um a três anos.
Sem reação inicial Felipe contou ao G1 o choque ao receber o bilhete: “Quando eu li, fique sem reação, eu não esperava receber isso em 2020. Fiquei com muita raiva e amassei. Depois respirei, guardei e não contei para o meu namorado porque não queria ele ficasse triste com a situação”. “Quando essa notícia veio pra mim, foi um choque grande assim, porque quando você lê aquela carta e você lê ‘respeito, por favor’, você se sente uma aberração, como se o que você tivesse fazendo fosse algo desrespeitoso e algo que não estivesse certo”, disse o companheiro de Felipe, Diógenes Renan, que é analista de sistemas.
O maquiador mora no residencial na zona Leste de Joinville há pouco mais de um mês e o namorado estava na casa dele. “É normal a gente andar de mãos dadas, algo natural”, contou Felipe, que tem uma barbearia na cidade voltada para o público LGBT e mulheres com cabelos curtos. “Lutar contra homofobia e lgtfobia é algo que faz parte da nossa vida, só que não esperava que acontecesse dentro de casa”. Após receber o bilhete, ele resolveu expor a situação no grupo de um aplicativo de mensagens dos moradores do seu bloco. Depois, ele também postou nas redes sociais.
“Tentei ser o mais educado possível e até me prontifiquei, falei: Se você que não se identificou tiver dificuldades para educar seu filho, de explicar para ele que existe diversidade, que existem casais formados por pessoas do mesmo sexo, posso fazer uma cartilha para você ensinando de uma forma bem didática e ilustrada a educar seu filho, para que não seja preconceituoso que nem você”, relembrou Felipe em entrevista ao G1.
Após expor a situação, ele conta que recebeu mensagens de apoio de vizinhos. Um deles colocou uma bandeira de arco-íris, que simboliza a diversidade, na janela.
O síndico do condomínio lamentou o ocorrido e disse ao G1 que se manifestou com os demais moradores tão logo soube do ocorrido. Segundo Charles Scheel, em 15 anos morando no local nunca soube de uma ocorrência como esta.
“Infelizmente não foi possível identificar o autor do bilhete. Em função disto, o condomínio emitiu uma circular informando o ocorrido aos demais moradores e informando que não compactua com este tipo de postura”, disse.
Fonte G1
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