No Rio de Janeiro, a “Bangay”, a primeira escola de samba LGBT da cidade, participará do próximo Carnaval onde seus integrantes poderão finalmente “brilhar” diante do público.
Com seus trajes de paetês, percussão e uma forte dose de samba nos quadris, esse grupo, nascido no bairro de Bangu, zona oeste do Rio, se parece com qualquer outra escola de samba da cidade.
Mas seus membros são “90% LGBTQIA+” , explica sua fundadora Sandra Andréa dos Santos à AFP, já que um ensaio está prestes a começar em um centro de lazer do bairro.
Mulher heterossexual casada com um policial, ela teve a ideia em 2016 de criar um “bloco” – um encontro semiprofissional que anima as ruas durante o carnaval – que daria a seus amigos LGBT um espaço próprio para brilhar.
Em 2021, o bloco se tornou uma escola de samba que participará pela primeira vez no dia 21 de abril da competição oficial desfilando em uma avenida carioca. Normalmente agendado para o final de fevereiro, o carnaval carioca foi adiado para abril devido a uma onda de Covid-19 que afetou o Brasil no início do ano.
“Somos a primeira escola LGBT” do Rio, diz Tiago Rosa, assistente de direção artística de Sandra. “Por trás das câmeras, quem não aparece, quem faz as fantasias, os carros alegóricos, são em sua maioria LGBT, e essas pessoas não são vistas, não têm seu espaço de direito dentro do carnaval” , diz.
Durante o último ensaio, a drag queen Louise Murelly, que tem 1,90 metro de altura, segura a bandeira de “Bangay”, cujo símbolo é um tigre branco porque “representa a soma de todas as cores”.
A poucos metros de distância, dançarinas trans balançam ao ritmo da percussão, lideradas por uma mulher, uma raridade na indústria.
“Por que a comunidade LGBT também não pode brilhar na frente, em vez de apenas nos bastidores?”, diz Louise Murelly.
“Seja quem você é”
Para desfilar, “Bangay” não recebe dinheiro da prefeitura e tem que se contentar com doações, fantasias recicladas e recursos próprios.
Além dessas dificuldades, ela deve enfrentar preconceitos. “Quando desfilamos na rua pela primeira vez como bloco, tinha gente que urinava nos nossos membros, puxava os cabelos, ria” , conta Sandra, emocionada ao falar sobre a violência sofrida pela população LGBT no brasil.
Em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no país, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil.
“Isso tem que parar”, implora Sandra, com a voz embargada. Bangay “está lá para mostrar que somos todos iguais. É um lugar onde você pode ser quem você realmente é” , insiste essa negra de cabelos longos e cacheados.
Poucos minutos após o início do ensaio, o camarim improvisado instalado nas instalações sanitárias do clube está transbordando de dançarinos que se ajudam a colocar suas fantasias e maquiagens.
“Bangay não significa apenas carnaval, é também minha família”, diz Paulo Cardoso, outro assistente de Sandra, vestido com uma camisa de veludo azul adornada com ombreiras brilhantes.
Todas as escolas de samba têm um sonho: habilitar-se para desfilar no famoso Sambódromo que atrai turistas de todo o mundo. Para isso, “Bangay” precisa de patrocínio e de um espaço de ensaio próprio.
Mas Sandra também tem outro sonho: “Ganhar dinheiro para ter uma casa onde possam morar homossexuais que não têm onde morar, que são rejeitados por suas famílias”.
“É um longo caminho, mas estamos na luta”, consola-se.
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