Ela decidiu não contar à criança se havia nascido menina ou menino, evitando ao máximo discutir seu sexo no nascimento com pessoas de fora da família e do seu círculo de amizades.
“Eu queria que eles fossem quem quisessem ser. Não quero decidir isso por eles”, afirma Martenson. Ela tinha 30 anos de idade e morava na sua cidade-natal – a capital da Suécia, Estocolmo – quando a criança nasceu.
“[É] só porque não quero decidir o que eles irão fazer quando crescerem, ou quem eles decidem amar ou com quem morar”, segundo ela.


Quando criança, Martenson foi basicamente criada dentro do estereótipo das normas de gênero, ganhando vestidos e presentes cor-de-rosa. Mas ela conta que, no final da adolescência, ela “descobriu o feminismo” e começou a questionar as normas de gênero.
Por isso, quando foi mãe, Martenson decidiu comprar para a criança roupas e presentes diversos, desde trenzinhos até bonecas, dando a eles a livre escolha sobre qual queriam usar em cada dia específico.
Ela esperava que seu estilo de criação ajudasse a criança a se sentir mais confortável, explorando uma série de hobbies e estudos, em vez de empurrá-los em direção a atividades com maior estereótipo de gênero.
Martenson também acreditava que criar uma criança sem gênero facilitaria as coisas se eles eventualmente se identificassem como de gênero diferente do seu sexo de nascimento e ajudaria a aceitar outras pessoas que não adotam o gênero binário ou outras normas sociais. “Estou deixando que eles sejam qualquer coisa… e ensinando a não limitar suas ideias”, ela conta.
Martenson repetiu a abordagem com suas duas outras crianças. Ela faz parte do que alguns especialistas afirmam ser um número pequeno, mas crescente, de pais – homo e heterossexuais – que optaram pela criação de filhos sem estereótipos de gênero nos últimos anos.
Não se sabe exatamente quantas famílias adotaram essa estratégia, já que existem poucas pesquisas públicas ou acadêmicas sobre essa microtendência. Mas escritores especializados na criação de filhos, psicoterapeutas e professores da pré-escola afirmam terem observado crescimento dessa prática na década passada, particularmente no norte da Europa e nos Estados Unidos.
Embora o número de pais que optam por esta abordagem venha aumentando – por menor que ainda possa ser a tendência -, trata-se de uma escolha não convencional, que enfrenta controvérsias.
Mas os pais que contestam as práticas estabelecidas de criação de filhos têm motivações específicas e adotam abordagens práticas. E compreender essas questões pode ajudar os demais a entender suas escolhas e até esclarecer o que a abordagem tradicional dos pais pode significar para o futuro da criação dos filhos.
Fonte : BBC